Ciara Carvalho
Moradores vivem rotina humilhante para conseguir água para a família
Diego Nigro
O sofrimento fez secar a
esperança. Massacrado por uma estiagem que já entra em seu quarto ano
consecutivo, o morador do Sertão e do Agreste perdeu a fé de que a ajuda
dos homens vai chegar. “Disseram que a água do São Francisco vem pra
socorrer a gente. Mas quando? Quando todo mundo já tiver morrido de
sede?” A descrença da dona de casa Maria das Graças Teixeira, 38 anos,
traduz o sentimento que se abateu sobre quem está cansado de esperar.
Ela vive na zona rural de Jataúba, uma das oito cidades de Pernambuco
que hoje dependem, exclusivamente, do abastecimento do carro-pipa para
ter acesso à água. No Agreste, além de Jataúba, a reportagem visitou
Pedra, Venturosa, Alagoinha e Poção. No Sertão, as cidades de Itapetim,
Brejinho e Triunfo. Na viagem pelos caminhos secos do Estado, o que se
viu foi a desesperança tomando conta da paisagem.
“Eu nunca vivi uma época tão difícil
como essa. Até a jurema preta (planta da caatinga) morreu. Nunca
imaginei ir embora daqui. E esse ano eu pensei em deixar minha terra”,
diz Vicente de Paula, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Itapetim. Em todas as cidades, os moradores dizem estar
calejados de velhas promessas. Não é para menos. A obra hídrica apontada
como a redenção para o homem do Nordeste, a transposição do Rio São
Francisco, caminha a passos lentos. Tanto que, em algumas localidades,
já ganhou o nome de “água-fantasma”.
“Acho que se um dia ela chegar por aqui,
nem vou estar mais viva. É coisa para os meus netos e olhe lá”, diz a
agricultora Gilberta Suzana da Silva, 42, moradora de Venturosa. “Está
todo mundo desanimado. Sem esperança de que mandem essa água para cá. A
tubulação ainda não chegou nem em São José do Egito”, endossa a
presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brejinho, Maria
Solange Pereira Teles.
Oito cidades de Pernambuco dependem, exclusivamente, do abastecimento feito por carro-pipa
Para quem tem urgência em matar a sede
as notícias são pouco animadoras. Na semana passada, cerca de 2,5 mil
trabalhadores foram demitidos na frente de trabalho da transposição
localizada em Salgueiro, no Sertão. O ritmo está desacelerando devido à
dificuldade de caixa do governo federal, responsável pela obra, e também
porque algumas empresas, contratadas para execução dos serviços,
estariam com dificuldades no seu fluxo financeiro após as acusações de
participação no esquema de corrupção da Petrobras. A transposição
consiste na construção de dois grandes canais: o Eixo Norte e o Eixo
Leste, que vão levar a água do Velho Chico para os Estados de
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. De acordo com o
Ministério da Integração Nacional, as obras físicas do projeto
apresentam 70,7% de execução. A previsão de conclusão é 2016.
Na semana passada, o presidente da
Companhia Pernambucana de Abastecimento (Compesa), Roberto Tavares,
esteve reunido em Brasília com equipes do governo federal para
apresentar projetos hídricos que possam garantir o abastecimento das
cidades em colapso antes mesmo da transposição entrar em operação. A
estratégia da empresa é injetar água de várias fontes na Adutora do
Agreste, que atenderá 68 cidades e receberá água do Eixo Leste da
transposição.
“Já estamos perfurando 20 poços em
Tupanatinga, outros cinco em Ibimirim, além da construção das barragens
de Pedro Moura, em Belo Jardim, e de Serro Azul, em Palmares. Queremos
antecipar também o início da operação da adutora no ponto que vai
beneficiar Arcoverde e Pesqueira. Garantindo o abastecimento nessas duas
cidades, o sistema ficará mais livre para atender os demais
municípios”, explicou Roberto Tavares. Apesar de reconhecer o estado de
calamidade, sobretudo das cidades abastecidas apenas por carro-pipa, o
presidente da Compesa afirmou que nos últimos oito anos foram investidos
cerca de R$ 4 bilhões em obras hídricas, só pela estatal. “Se não
fossem essas obras nossa situação estaria muito pior.”
FONTE: JC ONLINE
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