Em
março de 2010, Ariano Suassuna deu uma aula-espetáculo durante o
Festival de Teatro de Curitiba (Foto: Lenise Pinheiro / Folhapress)
Morreu no
Recife, nesta quarta-feira (23), o escritor, dramaturgo e poeta paraibano
Ariano Suassuna,
aos 87 anos. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Português, onde foi
submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular
cerebral (AVC) do tipo hemorrágico.
A cirurgia durou aproximadamente uma hora e ele havia passado a noite
bem, sendo transferido para a UTI neurológica. A operação foi feita para
a colocação de dois drenos que controlariam a pressão intracraniana. Na
noite de terça-feira (22), o quadro dele se agravou, devido a "queda da
pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada", conforme foi
informado em boletim.
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de
agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio
de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na
unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no
hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e
nenhuma visita.
Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma
arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um
apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da
internação, no dia 4 de setembro.
Na
aula-espetáculo que ministrou no Festival de Inverno de Garanhuns, na
semana passada, mais uma vez Ariano misturou causos, informações sobre
elementos da cultura popular nordestina; o grupo Arraial foi o convidado
para os números de música e dança (Foto: Costa Neto / Secretaria de
Cultura de Pernambuco)
Ativo até o fim
Ariano Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927, em João Pessoa, e
cresceu no Sertão paraibano. Mudou-se com a família para o Recife em
1942. Mesmo com os problemas na saúde, ele permanecia em plena atividade
profissional. "No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se
Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil,
não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma
no cérebro, isso eu tiro de letra", disse ele, em dezembro de 2013,
durante a retomada de suas aulas-espetáculo.
Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o
Galo da Madrugada. Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do
Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu
acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o
carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste
sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os
manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Na última sexta-feira, Suassuna apresentou uma aula espetáculo no
teatro Luiz Souto Dourado, em Garanhuns, durante o Festival de Inverno.
No carnaval do próximo ano, o autor paraibano deve ser homenageado pela
escola de samba Unidos de Padre Miguel, do Rio de Janeiro.
Com
montagem d'O Auto da Compadecida no Rio de Janeiro, Ariano conquistou a
crítica brasileira (Foto: Acervo pessoal / Ariano Suassuna)
Obra
A primeira peça do escritor, "Uma mulher vestida de sol", ganhou o
prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores
clássicos, "O Auto da Compadecida", em 1955, cinco anos depois de se
formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife,
em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo
nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no
Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é
considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel
Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
O escritor considera que seu melhor livro é o “Romance d'A Pedra do
Reino e o príncipe do sangue do vai-e-volta”. A obra começou a ser
produzida em 1958 e levou 12 anos para ficar pronta. Foi adaptada por
Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Rede Globo em 2007, com o nome de
"A pedra do reino".
Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que
defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas
raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de
Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de
professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período
também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano
tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio
de Janeiro, em 1990.
FONTE: G1 PERNAMBUCO