terça-feira, 7 de maio de 2013

DEPUTADA TERESA LEITÃO PROPÔS BICICLETÁRIOS, E PROJETO JÁ FOI SANCIONADO PELO GOVERNADOR

Onde deixar a bicicleta? Apesar de leis próprias e pressão popular, existem poucos estacionamentos adequados para o transporte
Laís Araújo - Diario de Pernambuco
Publicação: 30/04/2013 22:00 Atualização: 02/05/2013 11:43

A falta de bicicletários leva os usuários a amarrarem suas bikes em grades ou em postes. Foto: Bruna Monteiro Esp.DP/D.A Press
A falta de bicicletários leva os usuários a amarrarem suas bikes em grades ou em postes. Foto: Bruna Monteiro Esp.DP/D.A Press
Enquanto o Recife ideal, com espaço prioritário a pedestres, ciclistas e condução pública, vem acontecendo lentamente e às custas de muita pressão popular, quem já utiliza a bicicleta como meio de transporte sofre pela falta de estrutura básica. Além das ciclovias e ciclofaixas, grande reivindicação da pauta de mobilidade urbana, a falta de bicicletários e paraciclos é grande desestímulo aos que preferem – ou necessitam – utilizar o modal para se locomover pela cidade. Duas leis, municipal (nº 17.694) e estadual (nº 14.740), norteiam a criação dos estacionamentos, mas, na prática, é mais fácil amarrar a bicicleta em postes de luz do que encontrar um bicicletário apropriado na cidade.

A ausência de estrutura mínima de bicicletários também acarreta risco de danos e perda do veículo. A arquiteta Maria Escorel utiliza a bicicleta como principal meio de transporte. Vai ao trabalho, à praia, a parques e, afirma, sempre tem dificuldades para estacionar seu veículo. “Falta estrutura em locais primordiais, como a Avenida Boa Viagem, que tem ciclovia e muita gente pedalando. Você quer entrar na praia um pouco e precisa prender num poste, num coqueiro ou levar pra areia fofa. É péssimo”. Ela já passou por situações que denunciam a resistência da cidade em enxergar a bicicleta como meio de transporte legítimo. “Uma vez fui almoçar num restaurante que não tinha bicicletário. O único local pra amarrar minha bicicleta era perto da entrada, mas não quiseram que eu deixasse lá. Tive que ir pra outro lugar”. Maria, às vezes, leva o selim consigo quando precisa estacionar a bicicleta na rua, para evitar o furto da peça.

Morador do Arruda, o consultor técnico Sérgio Gustavo afirma que precisa buscar alternativas para manter sua bicicleta segura. “Se você investe dinheiro numa bicicleta, você quer deixar ela segura, do mesmo jeito de um carro. Geralmente eu deixo a minha em algum estacionamento privado, de mercado, por exemplo, e vou andando pra o local que quero ir”. Ciclista de longa data, explica que precisa criar um método para manter seu veículo seguro, já que o roubo de bicicletas é facilitado pelo seu fácil desmonte. “Minha bicicleta é do tipo que se girar um parafuso a roda sai, aí eu preciso prendê-la de um jeito que isso não aconteça. Recife não está preparado para receber bem os ciclistas”. Sérgio conta que utiliza os bicicletários existentes nos terminais integrados de transporte público, mas que esses ainda pecam na segurança. “Seria melhor se houvesse vigilância ou se ficassem do lado de dentro do terminal. Tirando isso, acho o modelo muito bom”.

Guilherme Jordão, defensor público federal e membro da recém-criada Associação Metropolitana de Ciclistas (AMECiclo), reforça que o Recife carece de bicicletários em locais públicos e privados e que, mesmo os existentes, falham em se adequar a realidade do transporte. “Os bicicletários que existem na cidade em geral não foram planejados por quem tem vivência de bicicleta. Tem os famosos 'entorta roda', por exemplo, que fixam a bicicleta pela roda e podem danificar o aro da bicicleta”. Ele explica que o modelo mais adequado é chamado 'u' invertido, que permite amarração de diferentes tamanhos de bicicleta e que evitam danos provocados pelos outros tipos. “É mais barato e mais apropriado do que bicicletários em gancho, que exigem muita força física do ciclista. Há uma grande demanda pelos bicicletários atualmente, mas é preciso que eles sejam adequados”.





Tipos de bicicletários citados acima. Fotos: DP/D.A Press
Tipos de bicicletários citados acima. Fotos: DP/D.A Press




Expectativas para o futuro


A fotógrafa Luísa Nóbrega vai de bicicleta apenas para locais próximos do Poço da Panela, bairro onde mora. Ainda assim encontra obstáculos que a desestimulam a dar preferência ao modal. “Vou pra uma aula em Casa Amarela sempre de bicicleta, mas vou com uma bicicleta mais antiga e com uma corrente bem grossa, porque não tenho garantia de que ela vai continuar lá quando eu sair. Pra outros locais da região também vou de bicicleta, e nunca tenho um local bom pra deixar”. Em algumas situações, Luisa termina optando por usar outro meio de transporte por causa da falta de estrutura adequada. “O máximo que tem é aquele ferrinho pra amarrar. Em restaurantes ou lojas, geralmente algum funcionário fala pra encostar em algum local que o pessoal fica olhando”. Para Luísa, a falta de garantia quanto a segurança da bicicleta é o maior empecilho no seu deslocamento.

O defensor público e membro da AMECiclo Guilherme Jordão afirma que uma solução prática para o problema seria a instalação dos bicicletários em locais com grande fluxo de pessoas, além da vigilância das câmeras da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS). “Já seria uma melhoria significativa na questão da segurança. Mas, primeiro, é preciso criar esses bicicletários, seguindo as leis que definem como eles devem ser. Em locais públicos, principalmente em locais de transição, perto de metrô e de corredores de transporte público, por exemplo. Eles devem ser integrado à estrutura da cidade”. Ele explica que, assim como carros, o estacionamento de bicicletas não deve atrapalhar o pedestre. “Não é pra ficar no meio da calçada, em locais que atrapalhem as pessoas. É pra ser na rua ou em outros lugares que não tirem a mobilidade do pedestre”.

Segundo a Secretaria de Cidade do Governo de Pernambuco, 100km de ciclovias serão construídos em Recife e em sua Região Metropolitana. Junto com a via específica para o modal, a promessa de construção dos bicicletários em todas as Academias da Cidade e também nos 25 Terminais Integrados (TI) e nas futuras sete estações fluviais de embarque e desembarque.

Já a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) da Prefeitura do Recife informa que a prefeitura visa a construção de 76km de ciclovias em quatro anos e, consequentemente, de bicicletários, mas que os locais para a instalação ainda estão sendo estudados. Isis Cavalcanti, massoterapeuta e moradora da Encruzilhada, acredita que, se cumpridas, estas medidas vão estimular o uso da bicicleta como meio de transporte. “Com certeza estimula, quanto mais facilidades melhor. Hoje em dia não ando muito de bicicleta, mas com essa estrutura teria mais liberdade e segurança. Trabalho perto de onde eu moro, então se essa estrutura já existisse seria muito interessante pra mim”. (Pernambuco.com)

Conheça o que dizem as leis sobre bicicletários
Lei Estadual nº 14.740,
de 19 de julho de 2012
Lei Municipal nº 17.694,
de 06 de abril de 2011
Proposta pela Deputada Teresa Leitão e sancionada pelo Governador Eduardo Campos, a lei estabelece a criação de bicicletários nos órgãos públicos do Estado de Pernambuco e nas empresas privadas com mais de 100 funcionários. Teoricamente, está em vigor desde novembro de 2012, 120 dias após sua criação. A punição prevista para os estabelecimentos privados é de advertência em primeira instância e de multa entre 1.000 e 100.000 reais no caso de reincidência.


* Segundo a Secretaria de Cidades, não é especificado na lei que órgão deve efetuar a fiscalização, o que acarreta na não-fiscalização e consequente descumprimento das normas. A assessoria jurídica do Gabinete da Deputada Teresa Leitão, no entanto, afirma que a fiscalização deve ser realizada pelos órgãos competentes, não sendo necessária a especificação deste nos detalhamentos da lei e ressalta ainda também que a lei foi sancionada pelo Governador.
Estabelece a criação do Sistema Cicloviário do Recife e define que a utilização de bicicletas deve ser incentivada e abordada como modo de transporte para as atividades do cotidiano, devendo ser considerado modal efetivo na mobilidade da população. Além disso, afirma que os terminais e estações de transferência do Sistema Estrutural Integrado (SEI), os edifícios públicos, as indústrias, escolas, centros de compras, condomínios, parques e outros locais de grande fluxo de pessoas deverão possuir locais para estacionamento de bicicletas. Também é definido que a segurança do ciclista e do pedestre é condicionante na escolha do local.

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