Mas as denúncias de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) coletou milhões - possivelmente bilhões - de dados de ligações e e-mails trocados no Brasil passam e ter destaque nas preocupações bilaterais após serem reveladas pelo jornal "O Globo" no domingo.
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Violação
de privacidade - Edward Snowden, 29, ex-técnico da CIA que trabalhou
como consultor da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em
inglês) dos Estados Unidos, assumiu a responsabilidade pelos recentes
vazamentos sobre a espionagem americana. O técnico revelou
voluntariamente que é a fonte utilizada pelos jornais britânico "The
Guardian" e norte-americano "The Washington Post", que revelaram dois
programas de espionagem que permitem consultar diariamente registros de
ligações nos Estados Unidos e extrair informação de servidores de
gigantes da internet com o objetivo de espionar estrangeiros suspeitos
de terrorismo Leia mais Ewen MacAskill/The Guardian/AP
"É uma denúncia gravíssima e que o governo está tratando com muita seriedade. Mas não creio que vá chegar a comprometer as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos", disse à BBC Brasil o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Geraldo Zahran.
"O problema é que pode haver algum confronto de prioridades entre os dois países, já que esse não é um assunto de prioridade para os Estados Unidos . Tudo vai depender das conversas entre os governos nos próximos dias."
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Com
a divulgação de que o governo dos Estados Unidos tem acesso a dados
privados de usuários (como conversas telefônicas ou mesmo e-mails),
internautas começaram a fazer montagens brincando com essa situação. Um
dos mais famosos é o tumblr "Obama is checking your e-mail" (Obama está
checando seu e-mail), que mostra imagens do político (geralmente em
compromissos oficiais) vendo telas de computador em diversas ocasiões. A
brincadeira é dar a impressão de que Obama está está "xeretando" a vida
digital dos internautas Reprodução/obamaischeckingyouremail.tumblr.com
"É óbvio, porém, que a curto prazo, os fatos alegados introduzem um tópico claramente negativo numa agenda ainda rala e em busca de engajamentos positivos", diz Sotero.
"Entendimentos ou acordos que envolvam compartilhamento de informações, como por exemplo a inclusão de brasileiros num programa piloto do Global Entry, oferecida por Washington, ficam obviamente mais difíceis, se é que eram viáveis."
'Contaminação'
O próprio Itamaraty diz que não trabalha com a hipótese de "contaminação" de outros temas da agenda bilateral pelas denúncias. Enquanto as explicações requisitadas junto ao governo americano não forem recebidas e analisadas, o Ministério disse que não irá fazer conjecturas sobre o tema.
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23.out.2012
- Isaura Lopes, 79, está há duas décadas peregrinando pelas capitais
brasileiras em jornadas cristãs que duram 20 dias. Com ajuda de
passageiros e aposentadoria, ela compra as passagens e se fixa em
terminais fazendo dos assentos, dos bancos, dos banheiros e dos
restaurantes móveis e cômodos de sua própria casa. Na foto, ela faz
pregação no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS) Diego Vara/Agência RBS
Na segunda-feira, o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, se encontrou com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Segundo correspondentes, Shannon criticou as reportagens de O Globo por "apresentar uma imagem do nosso programa (de monitoramento das comunicações) que não é correta".
Mais tarde, Paulo Bernardo disse que Shannon havia negado que os Estados Unidos tenham monitorado ligações e dados de internet no Brasil.
"Ele negou que haja esse monitoramento aqui no Brasil, disse que nunca teve essa central de dados aqui e também que não tem nenhum tipo de convênio com empesas brasileiras para coletar dados em território brasileiro", disse o ministro, em declarações reproduzidas na Agência Brasil.
Para o ministro, não há razão para que as denúncias azedem as relações entre Brasil e Estados Unidos. "Nós vamos trabalhar com muita prudência e tranquilidade".
"Acho que não tem motivo para isso. Por outro lado, temos que ser firmes e exigir transparência. Somos países amigos, mas isso não elimina a necessidade de exigirmos explicações."
Não faça o que eu faço
As declarações oficiais até agora confirmam a suspeita de analistas para quem o escândalo levará o Brasil a subir o tom contra os Estados Unidos nas instâncias relevantes, mas evitando se confundir com países como a Venezuela, Nicarágua, Bolívia e Cuba, que ofereceram asilo ao homem que revelou o programa secreto, o ex-agente da CIA Edward Snowden."O Brasil sempre caminhou sobre a linha fina entre ser um aliado dos Estados Unidos e pressionar contra os Estados Unidos e a Europa em instâncias internacionais. E sob o governo do PT, conseguiu reafirmar a sua autonomia sem ir tão longe quanto os países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas)", disse à BBC Brasil um especialista em temas brasileiros da American University, em Washington, Matthew Taylor.
"Acredito que isso vai continuar. Muito dessa negociação ocorrerá a portas fechadas e o Brasil deve fazer reprimendas nas instâncias internacionais. Isto (o escândalo) abala a lua de mel, mas não levará a uma separação", compara.
Taylor observa a "ironia" de Brasil e Estados Unidos integrarem um diálogo global sobre transparência governamental e diz que as revelações sobre o alcance da espionagem americana - não apenas no Brasil, mas no mundo - é um "golpe para o prestígio americano" nesse tema.
"Nos últimos três ou quatro anos, o vazamento de informações por parte do site WikiLeaks, e agora Snowden, passa a impressão de que o comportamento dos Estados Unidos não está de acordo com o que prega", diz o especialista.
"Para a opinião pública brasileira, ficará a sensação de que os Estados Unidos pedem mais democracia e transparência no mundo, e no entanto, veja como se comportam!"
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