Por Bruno Bonsanti
05/11/2013 02:02
Não havia nada de excepcional naquele domingo, além da
perspectiva de um grande jogo no dérbi da cidade. Os operários
italianos, maioria da “numerosa assistência” que foi ao Parque
Antártica, encheram os bondes da zona oeste de São Paulo, como sempre
faziam, sem saber que presenciariam a história. Sem saber que veriam, 80
anos atrás, o Palestra Itália vencer o Corinthians por 8 a 0.
Foi em 5 de novembro de 1933 que o futuro Palmeiras aplicou no rival a maior goleada da história dele e do confronto. O placar dilatado surpreendeu, claro, mas uma vitória dos donos da casa, que ganharam o clássico por 5 a 1 no primeiro turno, era esperada. O Corinthians havia perdido dois anos antes alguns dos seus principais jogadores. O zagueiro Del Debbio e os atacantes Filó, Rato e De Maria foram para a Lazio. A Itália recebeu os craques, e o time brasileiro não conseguiu repô-los à altura.
Foi uma época prazerosa para os inimigos. Entre 1931 e 1933, o Corinthians apanhou do Santos (7 a 1 e 6 a 0), Botafogo-RJ (7 a 1) e São Paulo da Floresta (6 a 1), todas derrotas que figuram entre as nove maiores goleadas da história do clube. Nenhuma tão pesada quanto a daquele domingo, contra o Palestra Itália, tricampeão paulista entre 1932 e 1934.
Romeu Pellicciari foi o nome do jogo. Dos 106 gols que marcou pelo clube verde e branco, três saíram nos 36 minutos iniciais contra o Corinthians. Ele não deixou o cruzamento de Luis Imparato cair no chão e emendou de primeira. Depois, não temeu cutucar a Onça com vara curta, deixou o goleiro com nome de felino no chão e entrou com bola e tudo. Deu tempo de marcar mais um antes do intervalo.
Não são conhecidas as palavras que o técnico alvinegro disse nos vestiários, mas mesmo que Pedro Mazzulo tenha usado um discurso motivacional digno de Rocky Balboa, tudo se tornou irrelevante bem rápido. Com menos de um minuto de segundo tempo, Elisio Gabardo fez o quarto. Romeu, de novo, fez o quinto, e Imparato fez o sexto. As esperanças do Corinthians, nove minutos depois de serem renovadas, foram subitamente devoradas que nem as pizzas que naquela época eram vendidas nas arquibancadas do Palestra Itália.
Coube a Imparato, com mais dois gols, completar a humilhação corintiana e causar uma das primeiras cenas que se repetiriam mais algumas vezes nos 80 anos seguintes. Cerca de 500 sócios foram à sede do clube, na Rua José Bonifácio, 33, exigir a demissão de toda a diretoria.
Nessa multidão, havia o embrião dos Black Blocs ou, nas palavras da Folha da Manhã, “manifestantes que só visavam a prática de depredações”. O tenente Fontes levou vinte soldados para ajudar o sub-delegado Parisi a dispersar os brigões. Enquanto o passado estabelecia as bases para o futuro repeti-lo, a diretoria alvinegra, agente de um futebol que dava os seus primeiros passos no profissionalismo e presidida por Alfredo Schurig, cedeu à pressão e pulou do barco.
O Corinthians foi profundamente ferido pelo Palestra Itália naquele 5 de novembro. O clube dos operários italianos que enchiam os bondes para ver jogos no Parque Antártica aplicou uma goleada que até hoje perdura no topo da lista das piores derrotas do maior rival, derrubou os seus dirigentes e levou pontos decisivos para as conquistas do Torneio Rio-São Paulo e do bicampeonato paulista – o jogo valia para as duas competições. Nada mal para um domingo que começou sem nada de excepcional, além da perspectiva de um grande jogo no dérbi da cidade.
FICHA TÉCNICA
Palestra Itália 8 x 0 Corinthians
Estádio: Palestra Itália
Data: 05/11/1933
Local: São Paulo-SP
Árbitro: Haroldo Dias de Mota
Palestra Itália: Nascimento; Cernera e Junqueira; Tunga, Dully e Tuffy; Avellino, Gabardo, Romeu Pellicciari, Lara e Imparato. Técnico: Humberto Cabelli
Corinthians: Onça; Rossi e Bazani (Nascimento); Jango, Brancário e Carlos; Carlinhos, Baianinho, Zuza, Chola e Gallet. Técnico: Pedro Mazzulo.
Fonte: Trivela
Foi em 5 de novembro de 1933 que o futuro Palmeiras aplicou no rival a maior goleada da história dele e do confronto. O placar dilatado surpreendeu, claro, mas uma vitória dos donos da casa, que ganharam o clássico por 5 a 1 no primeiro turno, era esperada. O Corinthians havia perdido dois anos antes alguns dos seus principais jogadores. O zagueiro Del Debbio e os atacantes Filó, Rato e De Maria foram para a Lazio. A Itália recebeu os craques, e o time brasileiro não conseguiu repô-los à altura.
Foi uma época prazerosa para os inimigos. Entre 1931 e 1933, o Corinthians apanhou do Santos (7 a 1 e 6 a 0), Botafogo-RJ (7 a 1) e São Paulo da Floresta (6 a 1), todas derrotas que figuram entre as nove maiores goleadas da história do clube. Nenhuma tão pesada quanto a daquele domingo, contra o Palestra Itália, tricampeão paulista entre 1932 e 1934.
Romeu Pellicciari foi o nome do jogo. Dos 106 gols que marcou pelo clube verde e branco, três saíram nos 36 minutos iniciais contra o Corinthians. Ele não deixou o cruzamento de Luis Imparato cair no chão e emendou de primeira. Depois, não temeu cutucar a Onça com vara curta, deixou o goleiro com nome de felino no chão e entrou com bola e tudo. Deu tempo de marcar mais um antes do intervalo.
Não são conhecidas as palavras que o técnico alvinegro disse nos vestiários, mas mesmo que Pedro Mazzulo tenha usado um discurso motivacional digno de Rocky Balboa, tudo se tornou irrelevante bem rápido. Com menos de um minuto de segundo tempo, Elisio Gabardo fez o quarto. Romeu, de novo, fez o quinto, e Imparato fez o sexto. As esperanças do Corinthians, nove minutos depois de serem renovadas, foram subitamente devoradas que nem as pizzas que naquela época eram vendidas nas arquibancadas do Palestra Itália.
Coube a Imparato, com mais dois gols, completar a humilhação corintiana e causar uma das primeiras cenas que se repetiriam mais algumas vezes nos 80 anos seguintes. Cerca de 500 sócios foram à sede do clube, na Rua José Bonifácio, 33, exigir a demissão de toda a diretoria.
Nessa multidão, havia o embrião dos Black Blocs ou, nas palavras da Folha da Manhã, “manifestantes que só visavam a prática de depredações”. O tenente Fontes levou vinte soldados para ajudar o sub-delegado Parisi a dispersar os brigões. Enquanto o passado estabelecia as bases para o futuro repeti-lo, a diretoria alvinegra, agente de um futebol que dava os seus primeiros passos no profissionalismo e presidida por Alfredo Schurig, cedeu à pressão e pulou do barco.
O Corinthians foi profundamente ferido pelo Palestra Itália naquele 5 de novembro. O clube dos operários italianos que enchiam os bondes para ver jogos no Parque Antártica aplicou uma goleada que até hoje perdura no topo da lista das piores derrotas do maior rival, derrubou os seus dirigentes e levou pontos decisivos para as conquistas do Torneio Rio-São Paulo e do bicampeonato paulista – o jogo valia para as duas competições. Nada mal para um domingo que começou sem nada de excepcional, além da perspectiva de um grande jogo no dérbi da cidade.
FICHA TÉCNICA
Palestra Itália 8 x 0 Corinthians
Estádio: Palestra Itália
Data: 05/11/1933
Local: São Paulo-SP
Árbitro: Haroldo Dias de Mota
Palestra Itália: Nascimento; Cernera e Junqueira; Tunga, Dully e Tuffy; Avellino, Gabardo, Romeu Pellicciari, Lara e Imparato. Técnico: Humberto Cabelli
Corinthians: Onça; Rossi e Bazani (Nascimento); Jango, Brancário e Carlos; Carlinhos, Baianinho, Zuza, Chola e Gallet. Técnico: Pedro Mazzulo.
Fonte: Trivela
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