quinta-feira, 18 de abril de 2013

EDUARDO CAMPOS ESTÁ NA OPOSIÇÃO, DIZ JOSÉ DIRCEU


Fotos: Michele Souza/JC Imagem
Na manhã quarta-feira (17) o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, petistas histórico, cumprindo seu terceiro e último dia de agendas em Pernambuco, realizou palestra na Câmara Municipal de Olinda, na Região Metropolitana do Recife. Na ocasião, Dirceu voltou a repetir que o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, "tem o direito" de se candidatar" à Presidência da República, apesar de se declarar aliado da atual presidente, Dilma Rousseff (PT). No entanto, não deixou a oportunidade de fustigar o pernambucano, afirmando que Eduardo já estaria no campo da oposição.
Roberto Magalhães diz que apoia candidatura de Eduardo a presidente

"Tudo indica que ele tomou a oposição ao nosso governo. Ele está deixando claro que ele está fora do nosso campo", disparou, em contraponto ao discurso de Eduardo, que afirma que as críticas disparadas ao governo Dilma são construtivas, como conselhos de um aliado. Mas evitou fazer mais juízos de valor às movimentações de Eduardo Campos. "Ele vai ter que fazer as opções dele", disse.

Nos últimos dois dias de agendas em Pernambuco, Dirceu afirmou que a candidatura de Eduardo Campos "interessa à direita" e ainda alfinetou o socialista, dizendo que "Pernambuco também pode mais", em ironia ao discurso de Eduardo de que o "Brasil pode mais". Mas José Dirceu diverge dos petistas que chamam Eduardo Campos de "traidor" de Lula. "Ele tem todo direito [de disputar a eleição presidencial em 2014], é legítimo. Em 2002 [Anthony] Garotinho e Ciro [Gomes] se candidataram a presidente, também. E integraram o nosso campo aliado".
Confiante na reeleição de Dilma, José Dirceu afirma que "não vai ser fácil". Mas aposta numa base de pelo menos 45% de votos para a petista no primeiro turno. Pelos cálculos dele, Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (tentanto viabilizar a Rede) devem disputar 45% dos votos.

O fortalecimento do nome de Eduardo Campos, inclusive, estaria sendo incentivado pelo campo da oposição, não numa movimentação em prol do socialista, mas numa tentativa de dividir a base de sustentação do atual governo. "Eles estão querendo dividir o nosso campo", afirmou. "Está visível isso". Mas, para Dirceu, a "esquerda" também tem culpa no crescimento da "direita". Os esquerdistas teriam relaxado após alcançar o poder, em 2002, com a eleição de Lula. E alertou para o "perigo" desse relaxamento.

"Nosso nível de organização, que derrubou a Ditadura Militar e o governo Collor, está nos fazendo falta hoje", bradou. "Precisamos elevar o nível do nosso debate político-eleitoral. Cada dia a direita fica mais radical. E estamos perdendo o debate com eles. A esquerda brasileira precisa evangelizar, disputar com as 'forças do mal', as forças não-populares. Estamos percorrendo o País com atos por isso, para dialogar, para levar a nossa mensagem".

A mídia, diz Dirceu, teria fundamental papel no fortalecimento da direita e enfrentamento ao PT, tentando plantar crises no governo e, por diversas vezes, até mentindo. "Antes foi o apagão. Disseram que corríamos um risco de apagão, mas não era verdade. Foi provado que não era verdade. Já não se fala mais disso. Agora é a Petrobrás, que estava sendo preparada havia anos para ser privatizada. Dobramos o investimento na empresa e agora querem vender uma crise na Petrobrás", reclamou, clamando mais uma vez um levante por uma maior conscientização social. "Nível de consciência política é algo que acontece a longo prazo". E a regulação da mídia, para ele, tem fundamental papel nisso.

"Na Europa se faz regulação. No Canadá e agora no México se faz regulação, para acabar com o monopólio midiático. Mas aqui [no Brasil], se fizer, é censura. Querem regulação para controlar a entrada capital estrangeiro para a mídia brasileira, para proteger as empresas daqui. Mas regulação interna ao País eles não querem", reclamou.


Mensalão

A mídia também foi criticada quando Dirceu falou do julgamento da Ação penal 470, conhecida nacionalmente como "Mensalão", no Supremo Tribunal Federal, transmitida pela televisão. Dirceu, acusado de encabeçar um esquema de compra de voto e influência na Câmara Federal em favor da Presidência da República, foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão. Pena que ele julga injusta. Ele diz ter cometido "apenas" um crime eleitoral, "por conta do sistema".

"O STF nunca processou um deputado licenciado. Em novembro de 2005, por 7 votos a 5, o STF mudou uma norma de 30 anos para poder me julgar. O procurador-Geral fez uma denúncia vazia. Não há nenhuma prova. Ele transformou desvio de verba para Caixa 2, crime eleitoral, em formação de quadrilha, lavagem de dinheiro. O mensalão foi construído [pela mídia] para desestabilizar o governo Lula e conseguirem um impeachmant.

"Inventaram uma mentira. Deram um jeito de dizer que o dinheiro do Visanet é público, quando na verdade é particular", criticou. "O julgamento foi marcado propositalmente no período eleitoral, transformado no maior julgamento da história do País. Uma Suprema Corte para por sete meses para único julgamento é algo inédito no Mundo", seguiu.

José Dirceu convocou a população a fazer uma "luta política" para rever o julgamento, que ele considera "político". Ele pretende levar o caso ao Tribunal Penal Internacional para "rever o erro". "Mesmo que eu cumpra a pena, vamos continuar a luta", convoca. Ele aproveitou também para convocar a população para aprovar a proposta de reforma política, que já está na Câmara Federal.

"No Brasil gasta-se R$ 15 bilhões para eleger um candidato. Esse dinheiro todo vem de empresas. E vai ser cobrado, gerarando uma série de corrupções. Mas a Câmara [Federal] não quer [a reforma]. Sem mobilização social não haverá reforma política". E destacou a importância das mobilizações para o fortalecimento da esquerda - em especial do governo do PT, por não ter maioria no Congresso Nacional. "Hoje temos quase 90 deputados e mais de 10 senadores. Com o Lula [como presidente] era ainda pior. E deu no que deu. Somos o único país na América Latina sem maioria no Congresso. Temos que compensar isso com mobilização social".
A palestra em Olinda foi viabilizada pelo amigo de militância de Dirceu, o vereador petista Marcelo Santa Cruz (centro), e pelo também petista vice-prefeito Enildo Arantes (a esquerda).

PT de Pernambuco


Mas aqui em terras pernambucanas o que o PT não tem mostrado é unidade. A situação da sigla, que já se dividia entre o hoje senador Humberto Costa e o hoje deputado federal João Paulo Lima, começou sair do controle quando o então prefeito do Recife João da Costa e o outro João, o Paulo, que havia carregado sua candidatura à Prefeitura, romperam as relações. O cenário culminou com uma prévia, onde João Paulo e Humberto apoiaram a candidatura do então deputado federal Maurício Rands, que acabou derrotado.

Mas a prévia foi cancelada, Humberto escolhido pela Direção Nacional como candidato a prefeito - obviamente sem apoio de João da Costa, que até fez oposição - e Maurício Rands terminou por se desfiliar do partido e abandonou a política. Seis meses após as eleições, já não há mais trocas de farpas, mas também não há qualquer sinal de diálogo. José Dirceu, todavia, tem esperança numa mudança neste cenário muito em breve.

"Vamos restaurar [a unidade]. Vai ter o PED [-Processo de Eleição Direta para presidente estadual do partido] e vai ser o recomeço", apostou. "O PT é forte no Estado. Temos cinco vereadores, cinco deputados estaduais, três federais, senador... temos lideranças populares como João Paulo Lima. Vamos continuar sendo força decisiva, força determinante, inclusive em 2014, aqui em Pernambuco", disse, quase como num recado a Eduardo Campos.

Muito requisitado para fotos após a palestra na Câmara Municipal de Olinda, onde compareceram principalmente militantes do PT e do PCdoB, Dirceu se disse está saindo "renovado" de Olinda. "Por conta dessa visita de hoje, vou lutar ainda por mais uns 10 anos", afirmou, entre risos. Ele deverá articular sua defesa também para influenciar novas gerações. Vai elaborar, além de um cordel, uma história em quadrinhos onde conta - do seu ponto de vista - o julgamento do mensalão.

Antes da palestra, José Dirceu andou um pouco no Sítio Histórico da cidade em direção à prefeitura, onde conversou por quase uma hora com o prefeito Renildo Calheiros (PCdoB). Geólogo e alagoano, Renildo resolveu dar uma breve aula da história de Pernambuco. Foi bem até a hora em que disse que em Pernambuco as pessoas torcem mais por clubes do Rio de Janeiro e São Paulo. Deve ter confundido com sua terra natal. (FONTE: BLOG DE JAMILDO).

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