As incertezas em torno do avanço da
microcefalia em todo o Brasil, especialmente em Pernambuco, fazem criar
uma onda de boatos que só aumenta a sensação de medo na população,
especialmente entre gestantes e mães. Circulam pelos grupos no WhatsApp e
pelas redes sociais mensagens e áudios com todo o tipo de conteúdo e
que relacionam, sem evidências científicas, o aumento do número de
recém-nascidos com essa malformação a uma série de fatores que não estão
comprovados, como vacinas e agrotóxicos. Além disso, as mensagens sem
embasamento científico vinculam a infecção pelo vírus da zika (agente
que tem aparecido até agora como a hipótese mais provável para
justificar o avanço da microcefalia) como causador de uma nova síndrome
em crianças: a neurozika. Essa relação não procede.
O áudio que faz essa relação, inclusive,
utiliza de forma indevida o nome da neurologista infantil Adélia
Henriques, que precisou gravar uma mensagem para esclarecer à sociedade
que as informações repassadas são inverídicas e que o compartilhamento
de conteúdos com essa gravidade cabe só a órgãos competentes. Também
preocupado com a série de boatos que tem circulado na internet, o
pediatra Homero Rabelo, do Hospital Barão de Lucena, escreveu, em sua
página no Facebook, uma mensagem para tranquilizar as mães e as
gestantes.
“Gostaria de dizer que já existe um caos
estabelecido em função da epidemia de microcefalia em nosso Estado, e
isso já é mais que o suficiente (...) Não vamos criar, especular,
transmitir mais medo à sociedade, ampliando os grupos de risco. (...) Os
bebês que já nasceram bem, sem microcefalia, não estão condenados a ter
encefalite, meningite ou qualquer outra síndrome neurológica grave”,
escreveu Homero.
Muitas dúvidas também giram em torno da
probabilidade de uma pessoa infectada pelo vírus da zika desenvolver
complicações neurológicas graves. Na matéria que o JC
publicou ontem sobre a relação de zika com manifestações neurológicas, a
neurologista Maria Lúcia Brito Ferreira já explicava que nem todos os
pacientes com um quadro viral chegam a desenvolver um quadro
neurológico. “Aqueles que apresentam síndromes depois de uma infecção
viral podem ter um sistema imunológico mais vulnerável”, reforçou Maria
Lúcia.
Os profissionais que atendem diretamente
as gestantes também têm observado um intenso clima de preocupação entre
elas. “Elas chegam para realizar a ultrassonografia como quem vai ouvir
uma sentença. E não é para ser assim, pois o ultrassom é para ser um
momento de festa em que os pais se emocionam ao ouvir as batidas do
coração. Quero que esse clima não seja quebrado. A gestação é um momento
singelo que não pode ser subtraído da mulher”, diz o médico Pedro
Pires, coordenador de medicina fetal do Centro de Saúde Amaury de
Medeiros (Cisam).
Ele reforça que as famílias precisam
saber que, apesar do aumento no número de bebês com microcefalia, a
maioria deles nasce sem a malformação. “As maternidades continuam cheias
de bebês saudáveis. Além disso, há alguns que têm a cabeça pequena por
um padrão familiar e sem apresentar consequências que prejudiquem a
saúde”, esclarece Pedro Pires.
FONTE: JC ONLINE
Confira a matéria completa com áudio:
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