Infelizmente, nos últimos dias, a revolta do povo com a atual crise política no Brasil leva a pedidos perigosos, como o da volta da Ditadura Militar. O número de brasileiros clamando por intervenção militar tem crescido assustadoramente e é preciso alertar sobre os riscos de uma nova ditadura.
Primeiro lugar, não é intenção desta postagem falar mal de militares em si. Muito pelo contrário, eles merecem nosso respeito, sobretudo por serem os responsáveis pela defesa da Nação. É muito importante salientar que muitos militares, felizmente, não compactuam com essa ideia de intervenção, a exemplo do que aconteceu em 1964.
Em 1964, os militares que tomaram o poder inventando uma inverdade - de que João Goulart pretendia implantar uma ditadura comunista no Brasil -, com o apoio dos Estados Unidos, que se empenharam em espalhar ditaduras militares pelo continente americano, para evitar que vários países - especialmente, Brasil, Argentina e Chile - seguissem os exemplos de Cuba, a primeira nação socialista das Américas.
Os intervencionistas garantem que a intervenção seria breve. Mas os golpistas de 1964 diziam o mesmo. Que apenas ficariam no poder por pouco tempo. O resultado é que passaram 21 anos no poder, até 1985, fazendo com que os anos 70 fossem chamados de "década perdida", lamentavelmente.
Intervencionistas garantem que não houve ditadura. Se na época, não se podia pensar livremente, se não se podia expressar suas opiniões, sob o risco de ser cassado, torturado, exilado e até morto, como dizer que não foi uma ditadura?
Dizer que eles só perseguiram comunistas e terroristas também é outra inverdade. Muito embora a esquerda fosse o alvo preferido dos militares, haviam também elementos de direita que também sofreram perseguições e retaliações. Bastava discordar em apenas UM ponto do governo.
O período também foi caracterizado pelo abuso de torturas e perseguições, em especial, nos governos de Costa e Silva e Médici. Infelizmente, no Brasil, os cinco presidentes militares (Castelo Branco (1964-1967), Costa e Silva (1967-1969), Emílio Garrastazzu Médici (1969-1974), Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figueiredo (1979-1985)), morreram sem punição, ao contrário do que aconteceu na Argentina, onde Videla chegou a ser preso, e no Chile, onde os compatriotas puderam comemorar o fato de verem Pinochet trancafiado em uma cela.
Em 1985, foi posto um fim nesse período triste com a eleição de Tancredo Neves. Por isso, é importante respeitar quem derramaram o sangue e até deram a vida em defesa da Democracia. Pedir a volta da Ditadura é insanidade. Não precisa ser comunista de esquerda para ser contra a ideia, basta apenas ser cercado de bom senso e ideias de Liberdade.
Intervenção Militar não resolve, pois se cassa os políticos e fecha o Congresso, é bom lembrar quem os colocou lá. Será que uma pessoa que, por exemplo, rouba cargas quando um caminhão tomba na estrada, fura filas ou estaciona em locais para deficientes, elege alguém honesto para ocupar um cargo público?
O que resolveria verdadeiramente era uma maior Educação e consciência popular. Os países civilizados como Noruega e Suécia, por exemplo, dão esse exemplo. Por outro lado, nenhum país que esteve nas mãos do militarismo conseguiu se desenvolver. Basta ver o caso mais recente da Tailândia, que ainda sofre as consequências do golpe militar de 2014.
O triste saldo do Brasil na época foi o aumento da Inflação (que só viria a ser detida em 1994, nove anos após o fim da ditadura), os ricos ficarem mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Falam-se muito que não havia corrupção na época, mas isso é algo que não se pode afirmar, já que tudo na época era escondido e não podia ser divulgado.
A Democracia pode ter defeitos, sim, mas ainda é o melhor dos regimes. Ditadura (seja vermelha ou amarela), jamais.
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