Foto: José Cruz / Agência Brasil |
O vice-presidente da República, Michel
Temer, enviou carta à presidenta Dilma Rousseff em que aponta “fatos
reveladores” da desconfiança que o governo possui em relação a ele e ao
PMDB.
De acordo com a assessoria de imprensa
da Vice-Presidência, a decisão de Temer de escrever a carta foi tomada
após a presidenta informar, durante entrevista coletiva à imprensa, na
manhã desta segunda-feira, que o procuraria para conversar ainda hoje
(7).
No documento, entregue no fim da tarde
no Palácio do Planalto, Temer não propôs rompimento entre partidos ou
com o governo, de acordo com a assessoria da Vice-Presidência: “Ele
rememorou fatos ocorridos nestes últimos cinco anos, mas somente sob a
ótica do debate da confiança que deve permear a relação entre agentes
públicos responsáveis pelo país”.
Por meio do Twitter, a assessoria de
Temer informou que a carta foi enviada em “caráter pessoal” a Dilma, e
que o vice-presidente se surpreendeu com a divulgação do texto, “em face
da confidencialidade”. Ainda segundo os assessores, o vice exortou à
reunificação do país, “como já o tem feito em pronunciamentos
anteriores”.
Pela manhã, Dilma disse não ver motivos
para desconfiar de Temer, “um milímetro”. O encontro entre os dois,
previsto por ela, não deve mais ocorrer hoje. Temer desembarcou em
Brasília pouco antes das 21h, após passar o fim de semana em São Paulo, e
está reunido no Palácio do Jaburu com lideranças do PMDB como o
presidente da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), Moreira Franco,
entidade acadêmica ligada ao partido.
Até o momento, a secretaria de imprensa
da Presidência não confirma o recebimento da carta pelo gabinete de
Dilma. Ainda de acordo com a assessoria da Vice-Presidência, Temer
manterá “a discussão pessoal privada no campo privado”.
Leia a carta na íntegra:
Leia a carta na íntegra:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent" (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por isso lhe escrevo. Muito a
propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me
chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é
preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a
revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo
art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À
minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo
constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da
absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao
PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio
pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última
convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E só o fizeram, ouso
registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB
apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da
credibilidade e do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou
confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. Passei os quatro primeiros anos
de governo como vice decorativo. A Senhora sabe disso. Perdi todo
protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado
pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as
crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos
chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país;
éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à
última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira
Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia
que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me.
Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais
recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas",
culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum
aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área,
indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que
ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo
para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o
governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha,
aprovar o ajuste fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos
trabalhadores e aos empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país.
Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no
governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos.
Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo
solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar
aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente
do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu
pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e
Presidente do Partido. Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados
por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do
governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim,
senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que
passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi
aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV,
recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso,
numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas
oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio
resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na
posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden -
com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus
assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice
Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes,
no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a
ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar
com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado
absoluta falta de confiança;
9. Mais recentemente, conversa nossa
(das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira
inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o
Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser
utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido
como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o
governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem
sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter
cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a
unidade partidária.
Passados estes momentos críticos,
tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar
as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não
tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas
esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
JC ONLINE / AGÊNCIA BRASIL
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