segunda-feira, 24 de agosto de 2020

24 de Agosto: 66 anos sem Getúlio Vargas

Hoje completam-se 66 anos de um fim trágico de uma carreira política que transformou a vida do Brasil em essencialmente agrário para uma nação industrializada, além de ser o primeiro governo a ter um olhar para as classes pobres, que eram ignorados pelos governos anteriores. No dia 24 de agosto de 1954, Getúlio Vargas tirava sua própria vida com um tiro no coração, mediante a uma grave crise política.

Nascido em São Borja (RS) a 19 de abril de 1882, sendo um dos últimos presidentes a nascer durante o Império, Vargas tinha apenas 7 anos quando foi proclamada a República. Em 1930, chegou ao poder derrubando a República Velha, por meio de uma revolução. O que acontece é que naquele ano o então presidente Washington Luís, de quem Vargas já tinha sido ministro da Fazenda, escolheu para candidato à presidente o paulista Júlio Prestes. Tal decisão ia de encontro à "Política do Café com Leite", onde deveriam se revezar paulistas e mineiros, mas Washington, sendo paulista (de adoção, pois era carioca de nascimento), escolheu outro paulista, o que desagradou os mineiros.

Getúlio tinha como vice o paraibano João Pessoa. Júlio Prestes também tinha como vice um nordestino, o baiano Vital Soares. As urnas foram abertas e Prestes venceu. No entanto, a oposição não aceitou o resultado, alegando fraude eleitoral. Em julho de 1930, João Pessoa foi assassinado em Recife, o que é tido como um estopim para a revolução. 24 dias antes de terminar seu mandato, o presidente Washington Luís e o seu vice, Fernando de Melo Viana, foram depostos e substituídos por uma junta militar, composta pelo General Augusto Tasso Fragoso, General Mena Barreto e o Contra-Almirante Isaías de Noronha, que entregaram o poder a Vargas no dia 03 de novembro de 1930.

Inicialmente, Vargas iniciou um governo provisório, anulando a Constituição de 1891. Após derrotar a Revolução Constitucionalista, Vargas convocou a Constituinte que elaborou a Constituição em 1934, que se destacou com leis trabalhistas e o direito de voto às mulheres, algo inédito na história do País. Vargas foi eleito presidente nessa ocasião, e deveria governar até 1938. Entretanto, ainda em 1937, Getúlio Vargas desejava permanecer no poder, e foi divulgado um suposto plano comunista chamado "Plano Cohen", para tomar o poder. O plano, na realidade, era uma farsa, servindo apenas de pretexto para o Estado Novo, que se iniciaria a partir de 1937, com uma nova Constituição, desta vez, imposta.

Em seguida, Vargas, com sua ditadura, passaria a perseguir fortemente os opositores e nomear governadores, e estes nomeavam os prefeitos. Havia ainda nessa ocasião, um forte comércio com a Alemanha, e Vargas passou a flertar com o fascismo. Nesse contexto, alguns defendem a tese de que Getúlio Vargas seria fascista, pois ele mantinha amizade e correspondência com os ditadores Adolf Hitler, da Alemanha, e Benito Mussolini, da Itália. Os que, entretanto, discordam, dizem que Vargas foi apenas um ditador populista, que promoveu uma ditadura pessoal, mas sem se identificar com alguma ideologia. Eles mostram como exemplo que quem pretendia instalar no Brasil um regime fascista era o escritor Plínio Salgado, da Ação Integralista Brasileira, a quem Vargas perseguiu, assim como também perseguiu os comunistas.

Apesar da proximidade com Hitler e Mussolini, a Segunda Guerra Mundial acabaria separando eles do Getúlio, que preferiria se manter neutro no conflito. Mas a pressão dos americanos e o afundamento de navios brasileiros por alemães levou o Brasil a entrar na guerra, colaborando para a vitória na Itália. A vitória brasileira na guerra, ironicamente, representou a derrota de Vargas, pois a vitória consolidada era dos regimes democráticos, o que levou Getúlio a perder força. Deposto em 1945, Vargas retornaria ao poder em 1950, dessa vez pelo voto direto. Eleito presidente, foi empossado em 1951, e deveria governar até 1956. Em seu segundo governo, destaca-se a fundação da Petrobrás. Mas as pressões americanas e da oposição contra seu governo eram enormes. Vargas não detinha dessa vez a mesma força política e vitalidade que tinha quando governou o Brasil pela primeira vez.

Em agosto de 1954, seu principal opositor, Carlos Lacerda, sofreu um atentado, sendo que quem viria a falecer era o Major Vaz. Esse atentado contribuiu para aumentar as pressões, pois descobriu-se que Gregório Fortunato, chefe da Guarda Presidencial, teria mandado matar o jornalista. As pressões dos militares aumentaram, e no dia 24 de agosto, Getúlio Vargas pôs fim à própria vida com um tiro no coração. O vice-presidente João Café Filho assumiu a presidência.

Mesmo depois de morto, Vargas se mostrou ser uma força política. Tanto que nas eleições de 1955, o candidato do grupo varguista, Juscelino Kubitschek, foi o vitorioso nas eleições presidenciais, tendo como vice João Goulart, que teve mais votos que Juscelino. Hoje, a herança política é reivindicada por dois partidos atuais: o PDT e o PTB. O PTB foi o partido de Vargas, extinto durante a ditadura militar e revivido a partir da década de 80, mas adotando tendências mais direitistas. O PDT foi fundado justamente nesse cenário de dissidência com o PTB. Getúlio foi o presidente que passou mais tempo no poder na História do Brasil: juntando seus dois mandatos, foram 18 anos de governo, 10 anos a mais que os segundos colocados Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, ambos com 8 anos cada.

Recentemente, em 2014, quando se completou 60 anos de sua morte, foi gravado um filme sobre seus últimos dias, chamado "Getúlio", que tinha Tony Ramos no papel do estadista, que "saiu da vida para entrar na história", como dizia em sua carta-testamento.

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